Dia do segundo de um conjunto de 10 poemas. Imaginem que a mulher que os escreve é uma mulher que vive na década de 1920, numa pequena aldeia do interior alentejano. O resto a seu tempo virá.
II
Frio. E que frio.
O frio. E que frio.
Este frio
e as mão geladas que nos fazem
não saber manusear os dedos.
Minguar à mingua do teu sexo.
Sem calor, não se vive.
Sem paixão, arrefece-se.
E o fogo dessa lareira
que teimosamente
retarda a dureza que se avizinha.
Sem calor, não se vive.
Sem paixão, morre-se.
A dureza dessa tenaz luzidia e forte,
que penetra por entre as chamas sem se perder.
Que penetra por entre as brazas
e faz-me tremer.
E faz-me gemer.
Sem calor, não se vive.
Sem paixão, morres-me.
E volta o frio.
E fica para sempre.
Para o primeiro poema basta clicar AQUI.
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Publicado por Lúcia Vicente
Nasceu em outubro de 1979, à beira da Ria Formosa, em Faro, numa família cheia de mulheres. Cedo se questionou sobre o papel da mulher na sociedade e por que razão os livros de História nunca mencionavam mulheres. Até hoje não conseguiu responder a estas questões, apesar da licenciatura em História. Com tendência para mudar de poiso de 10 em 10 anos: a última vez, farta de gente, saiu de Berlim direitinha para um monte alentejano, onde vive com o seu companheiro, filha e os seus dois cães bebés, o Johnny e o Cash. Já teve milhões de ofícios. O que mais gosta é o de ser autora e dedicar-se à educação das crianças para o feminismo. Em 2018 publicou o seu primeiro livro para crianças, Portuguesas com M grande e em 2019 a coleção infantil Sarita Rebelde – os livros de princesas sempre lhe provocaram urticária. Feminismo de A a Ser, o seu segundo livro, tenta (com dificuldade) educar adultos. A sua frase preferida é: Morra o patriarcado, morra! Pim! Ver todos os artigos de Lúcia Vicente