A propósito de uma coluna de um exímio editor, na secção de livros do Expresso (disponível só para assinantes, mas a ser partilhada nas redes sociais), comentei assim de rompante, em privado, e colo aqui:
Revirar de olhos consecutivos. Só consigo perceber isto como uma tentativa de provocação, a ver se vai parar às redes e depois é vilipendiado e, portanto, falado. Aquilo a que um conterrâneo da autora, o Carlo Strenger, chamou o medo da insignificância. Talvez também seja para se vangloriar de proezas sexuais passadas; ele pertence àquele parte da geração de 68 que se queixa do puritanismo do politicamente correto, e que legitimamente mas a sério que não percebe porque é que não pode dar palmadinhas no rabo a qualquer mulher que lhe apraze. Todas as gerações acham que inventaram o sexo, mas esta geração ainda por cima acha que inventou o orgasmo feminino (coisa que raramente terão visto acontecer, por causa própria ou de outrem, apostaria).
Ou então acha realmente relevante partilhar este tipo de coisa, acha-se realmente importante por ter convivido com mulheres bonitas, perfeitamente inconsciente do (ou indiferente ao) ridículo de ver numa mulher – sobretudo numa autora com quem tem uma relação profissional – apenas um conjunto solto de membros. O tom ostensivamente autodepreciativo é bastante indicativo, curiosamente, do complexo de inferioridade subjacente a tanta misoginia: sou baixote e magrelas e velho, e disfarço-o com um mulherão no braço (que exponho a outros homens, claro). Tudo o que fazem é para se mostrarem muito homens a outros homens. O homoerotismo amargo e triste da misoginia.
Acho sobretudo interessante como esta cena palerma evidencia, completamente por acaso, as relações de poder entre editor e autor: o editor escolhe o autor, mostra-o, exibe-o, apropria-se (literalmente) do seu valor, faz seu um capital cultural de que é o autor o, digamos, operário, para pôr a coisa em termos marxistas. Leia-se autora em vez de autor e a componente sexual acresce a isto. Conhecemos alguns editores predatórios destes, né? E sem a justificação da idade avançada. Editores que fazem dum catálogo uma espécie de harém intelectual e e social (bom, e sexual). Dava para uma longa discussão.
E já agora, a Alona Kimhi vale imenso a pena ler.
E até postava isto, mas não queria contribuir para os cliques