
O Jordan Peterson (lembram-se desse tarado, que alegadamente só se alimenta de carne vermelha e que até teve um fanico por isso?) e outros que tais falam da Natureza sempre do ponto de vista da luta entre fortes e fracos, leis da selva, hierarquias, selecção natural, oferta e procura (ah, o mercado, sempre o mercado…). É um discurso que usa as dinâmicas relacionais das lagostas para explicar as dinâmicas relacionais entre pessoas. É um discurso de quem não percebe nada, portanto. Nem de pessoas, nem de lagostas. Porque se há lição que a Natureza nos dá a cada passo é a do equilíbrio, da reciprocidade, da simbiose, da harmonia, muito mais do que a do poder, do antagonismo e da dominação. Essa lição é a primeira de muitas coisas que a Natureza nos dá. E ela dá, dá, dá. Talvez por tanto dar de si a tratemos tão mal (não quero culpar a vítima, mas este é um caso à parte).
Estou convencida de duas coisas: 1) A Natureza está numa relação abusiva connosco e não está a conseguir libertar-se dela – a Terra é alvo de violência doméstica, coabita com o seu agressor. 2) A facilidade com que a agredimos deve-se ao facto de a vermos como feminina. Eu sei, eu sei, vai haver quem ache que estou a levar as metáforas longe demais. Mas pensem bem: o agressor – a humanidade, isto é, o Homem (tradicionalmente, o humano universal é sempre tido como masculino) teria a mesma facilidade em violar, poluir, explorar, golpear, se o símbolo do nosso planeta fosse o Pai Natureza?
Não, o Pai está no Céu. A Mãe está na Terra. E a Terra é um presente dado pelo Pai aos seus filhos para dela retirarem o que entenderem, um meio para Ele demonstrar a sua magnanimidade e não um fim em si mesma.
Falar da Natureza como mãe tem sentido, claro. Ela é geradora, ela é generosa, ela é paciente. Mas basta de esperar tudo das mães. E das mulheres em geral. E basta de pintá-las desta forma passiva e servil, como se ela só servisse para dar e os seus recursos fossem infinitos. Como se os elogios que lhes são feitos compensassem os males que lhes são causados.
Precisamos, urgentemente, de um eco-feminismo que centre a nossa relação com a Natureza na ética das relações, na ética da responsabilidade e do cuidado, e que combata as forças destrutivas do capitalismo, do patriarcado e do colonialismo. E não apenas porque ela um dia se chateia a sério e o caldo ainda se entorna (já faltou mais), mas porque é nosso Dever. Com maiúscula. Individual e colectivo.
A tarefa em mãos é tão grande, há tanto por fazer, que não sei para onde me virar. Vou começar com uma prece, então, qual atleta antes da prova:
Uma oração à Natureza
Mãe nossa que estás na Terra, glorificado seja o vosso nome, respeitemos o vosso reino, tanto nos solos como nos céus.
O pão nosso de cada dia nos dás hoje. Alertai-nos para as nossas ofensas, assim como nós condenamos quem vos tem ofendido.
Não nos deixes cair na crueldade e livrai-nos da ganância. Ah, mãe.